25.11.10

Crônica de uma necrópole

Anjos sujos, presos a concreto pelos pés; donos de asas que não podem voar; donos de faces angelicais - posto serem anjos; donos de nada - posto estarem a nada guardar. Belos e viris ostentam uma juventude perene, enchendo de um falso élan a cidade dos que perecem. Figuras de uma glória opaca a defender em silêncio solene o direito inalienável de sermos esquecidos por todo sempre.

...E Natália não sentiu que estava sendo observada quando virou o rostinho de boneca em direção ao burburinho que vinha do vestíbulo do salão. "Alguém importante chegou", pensou quando espocou sobre si o clarão do flash que, poucos dias após, revelaria o lento e charmoso movimento da menina debutante num pedaço oval de porcelana, emoldurado em bronze, perfeito para adornar o jazigo da, agora, virgem leucêmica.

Aqui, o pranto deve permanecer para que jamais as almas se privem do banho que lava delas quaisquer resquícios de vida, que arrasta suas memórias, suas consciências, seus amores; e, na ausência de lágrimas, usa-se o orvalho mantido nos olhos das santas e nas trombetas das flores despercebidas ou das ironicamente nascidas nos leitos sepulcrais.

"O que há além da sepultura? Silêncio?" - eram as perguntas que fizeram brotar espessas gotas de suor da calva de Padre Josué que jazia imóvel e frio diante da cruz ao não ouvir anjos trombeteando sua entrada triunfal, assim como ele mesmo pregara milhões de vezes para seus séquitos deslumbrados. Os últimos lampejos de consciência, seu confutatis maledictis, revelaram-lhe as dúvidas de um homem que talvez não tenha sido tão pleno em seu ofício – eis sua derradeira e definitiva inquisição - e, misturadas às dores tenebrosas que lhe conferiam expressões que amalgamavam estranhamente comicidade e agonia, apareciam pernas brancas e roliças sustentadas por pés embarreados flexionando-se num infindo quarar de roupas. Não teria sido este o verdadeiro chamado divino? Mas, para o padre, claro, já não era mais possível converter-se ímpio. Uns pensam que a fé faz com que esperemos demais da morte. Os céticos crêem se precaver dessa possível e irreversível desilusão. Eles esperam demais da vida.

Não nos enganemos, pois há uma falsa paz ocupando estas alamedas. Se olharmos bem de perto, podemos ver demônios com suas boquinhas estridentes e olhos aturdidos berrando sem voz, estampados nos tampos de mármore, verdadeiros hades onde habitam estas criaturas de minério e quartzo. Entretanto, se quisermos conhecer as trevas inferiores, ergamos algum de tais tampos e então contemplemos ratos, baratas, escorpiões e lagartixas a se devorarem mutuamente, formando uma minúscula cadeia alimentar, uma vez o prato principal já ter sido devorado. E não nos espantemos se, ao bisbilhotar a tumba de algum político, este tártaro for ainda maior e a comilança mais frenética e escatológica. A morte também imita a vida.

Sempre que olhava pelas janelas baças, entre o murmúrio das ondas, ouvia seu pai a gritar com sua voz de acordeão afônico na velha Armênia: “não vá tão longe”. Mas as pernas eram como engrenagens incontroláveis, sua mão branca e leve teimava em acenar euforicamente, e a alma, tão mais quanto o apito do transatlântico, bramia. Não tinha noção de por que partia, só pressentia que ia para não mais voltar. Olhar para trás, jamais. Sentia que, se virasse o rosto, o velho que lamuriava cansado se tornaria todo um mar, todo um mundo, todo uma canção, que lhe encheria de lágrimas e morte: sabia ser a saudade o sal que nos sedimenta em estátuas.

Estátuas... Estas são a eterna espera, a espera pelo eterno, o mais justo exemplo de fé: aguardam, firmes, o momento seguinte que sabidamente jamais virá - e, sim, talvez venha daí o motivo inconsciente que nos faça adorar tanto estes deuses de calcário ou gesso que não falam e não ouvem. Estátuas de anjos podem ser de anjos que anseiam voltar para o paraíso; demônios em pedra podem ser demônios que almejam voltar às trevas, porque mesmo estas, às vezes são desejáveis, assim como era desejável, para ela - para a polaca, como era chamada pelos marinheiros - voltar para sua terra pelos turcos destroçada. Mas não. Mesmo sem ter se virado durante sua partida, tornou-se efígie ao esperar o iminente retorno. E, apesar dos tantos homens que, entre sacos de açúcar, na escuridão das docas, dela se serviram, somente restou esse: um velho todo de bronze verde-azulado pelo zinabre, ao pé da campa, que parecia engolir a própria face dada a ânsia em ser resgatado por aquela mão branca e leve. Com as pontas dos dedos cagadas de pombo, ele ainda está acariciando a letra “M” da lousa: “Heru Mertar” (não vá tão longe).

Ao cair da noite, os olhos dos cristos continuam vigilantes, alumiados fugazmente pela vela que fumega num castiçal ao longe; ela, singela, dizem, tem a tarefa de iluminar os espíritos; e, apesar do mundo que ruge ao lado de fora e das prostituas que, em sussurros e xingamentos, cravam seus saltos nos muros da necrópole, repousando seus corpos já exaustos das tantas pequenas mortes, os querubins agora cantam uma ode à estática com alaúdes sem cordas e clarins entortados para a ilustre platéia composta por algumas caveiras onde habitaram línguas velozes, ouvidos astutos e olhos brilhantes, cujos egos que as sustentaram eram tão grandes que eram capazes de encher as casas de concerto mesmo que fossem os únicos presentes. Nesta noite de gala, certamente perseguem a luz trêmula da vela tomando-a por holofote, pois o poder da vaidade é imensurável, ultrapassa qualquer barreira, até mesmo a que diz, na entrada do cemitério: sic transit gloria mundi.

Por um momento, parou e sentiu seu coração batendo compassadamente e, por isso, se desesperou em silêncio como a folha que é rodopiada pelo vento e é tombada novamente sem que ninguém perceba. Dera-se por conta, mais uma vez, de quão permanecer vivo estava fora de seu alcance, muito embora aquela máquina pulsante estivesse bem no centro de seu peito. A morte é bem assim, vive nos pregando novos sustos com suas já desgastadas constatações, sempre consegue surpreender mesmo sem ser original. O poeta observava a lápide de outro poeta que repousa num imenso mausoléu de lajes planas de granito negro, tão concreto quanto a concepção artística que lhe rendera bons livros. Era um desses gentlemen, um verdadeiro farol marítimo que se erguia, sempre com um bom scotch na mão, para alentar os amigos perdidos nas tempestades da alma, elemento tal que ele esmiuçava com cartesiana precisão; porém, como qualquer farol visto de perto, guardava em si também toda a solidão dos oceanos e todo o silêncio de suas negras profundezas. Seu gosto estético fez com que preferisse um tiro no meio do peito para que, por aquele pequeno buraco, vazasse toda condição erma de sua existência; diferente de seu amigo literato romântico que, agora, com a mão no queixo, observa sua lápide, mas que, mais tarde, desesperado pela ausência de entusiasmo criador, como Alfonsina*, partiria para o fundo do mar em busca de novos poemas, tornando-o seu ataúde. Ambos então teriam conquistado o que tanto lutaram para construir enquanto vivos: a eternidade pela arte, o que os distingue, mas não muito, dos habitantes desta polis.

Um pouco mais adiante, um coveiro assobia ao içar um esquife, emitindo um som alquebrado, assim como a própria ossada que vinha à luz aos solavancos. A névoa matutina esquadrinha as cruzes, a estrela de Davi e decepa os santos; faz com que a pequena ermida pareça estar flutuando, nos dando a imagem de que este lugar não é mais este lugar. E somos tentados ainda a pensar que, se transpuséssemos esta bruma, através do foco de claridade nela, alcançaríamos um outro espaço como se este tivesse sido criado neste mesmo instante e que jamais seria reproduzido exatamente se movimentássemos nosso corpo que fosse um centímetro à esquerda ou à direita. É uma Avalon que nos ilude. Estes lugares são a reinvenção da vida, que justamente nos afasta da morte, ou até mesmo a extingue, posto que, diante da novidade, ficamos tão vivos a ponto de pensar que conheceremos apenas os rumores do fim, sua aproximação como um marchar gradativo, mas jamais sua consumação, pois a morte só passa a existir quando começa a inexistir consciência. “Teremos então temido apenas um conceito”, diremos empolgados, mas o choque com o real se dá ao som dos ossos se batendo como canos velhos. “É bom que um homem assim tenha sido enterrado com as costas viradas para a terra, pois não corre o risco de ser apunhalado por trás novamente”, dizia em pensamento o coveiro afundado na campa quando chacoalhou o crânio do banqueiro de sobrenome impronunciável e ouviu um tilintar. Tratava-se de uma moeda de ouro como as colocadas nas bocas dos romanos para que estes pagassem o barqueiro responsável pela travessia. “Pode ficar pra você”, disse o procurador da família ao tirar o lenço do nariz.

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*Alfonsina Storni, poetisa. 
- Texto livremente inspirado na música de Arvo Pärt, Für Alina.

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Atibaia,
Primavera de 2010
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Para ouvir durante a leitura:




24 comentários:

Anthus da Geb disse...

É muito bom quando alguém se lembra de escrever algo sobre cemitérios.
Para muitos pode ser um tema desagradável, de mal gosto e sei lá mais o que, mas é um lugar que faz parte da vida. Você pode até evitar esse tipo de 'lugar', passar a vida longe deles, fugindo, mas o certo é que um dia você também fará parte da vidinha 'daquele lugar'.
Sim, há muita gente que evita cemitérios, outros não se importam muito com a questão.
Eu não me importava muito até a ida inesperada de meu irmão...e então frequentar o cemitério passou a ser uma questão importante.
No começo é estranho visitá-lo, mas com o tempo você se acostuma com a atmosfera do local....rsrsrsr com os sons e odores ( flores e árvores, entre outros tantos)é...cadáveres recentes que ficam naqueles jazigos com gavetas exalam um odor horrível ( e obviamente não podem cheirar bem!)....as vezes eu não queria ter uma memória olfativa tão boa.
É o tipo de ambiente que as pessoas deveriam frequentar mais vezes durante a vida....para se tornarem mais humildes.
Otto, você arrasou como sempre faz. Como você bem disse, a paz nesse lugares é falsa, realmente..e por inúmeras razões.
Uma das melhores partes: “A morte é bem assim, vive nos pregando novos sustos com suas já desgastadas constatações, sempre consegue surpreender mesmo sem ser original.”
Gosto de seus textos...eles me levam para longe e me fazem refletir...e eu acabo viajando nos comentários!
Beijos

Anthus da Geb disse...
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Antonio Maria Cabral disse...

Já li um texto seu antes, Otto, e reconheci o estilo denso, a narrativa quase atemporal, conceitos que reforçam o agnosticismo, a fragilidade e o nunca elucidado mistério da vida. No meio, algumas construções textuais complexas, mas que alinham conceitos surpreendentemente novos sobre a vida e a morte, e a natureza do homem, enquanto ser vivente. Foi um prazer ler-te de novo.

Eduardo Paixão disse...

Que bom ler novidades suas, Otávio. Você faz falta por aqui.Como sempre, seus textos são de altíssima qualidade. Porém aqui, você descreve fatos e personagens que têm uma relação direta com o meu universo. Que também têm muito do seu, afinal, muito de minha inspiração vem de seus textos. Creio que pelos anos de amizade, posso me confessar um imitador de seu estilo e se a imitação é a maior homenagem....Gosto imensamente dos anjos impassíveis, tão ou mais impotentes que os humanos. Possivelmente invejosos do poder de escolha(?) dos humanos. Os humanos são aqui reduzidos a sombras torturadas e isso vai de encontro ao que creio sermos de fato.Aplaudo sinceramente esta obra de arte tão complexa e ao mesmo tempo tão fluída. Poucas pessoa têm o dom de transformar o corriqueiro em algo trágico e belo.Com certeza voltarei para ler esse texto mais vezes. Um forte e sincero abraço.

Anônimo disse...

Que belo conto, Otávio! Já li e reli várias vezes...perfeito!Abraços.

josé carolina disse...

Otto, Otávio? Ainda dedico-me tempo maior para uma terceira leitura do texto, isto não é um comentário, depois o farei com a dedicação devida.
Vim para dizer que você pode e deve tomar as rédeas daquele poema. Já lhe foi escrito e dedicado e, portanto, é seu por completo.
Fique à vontade para entornar de uma só vez ou dar goles amiúde. Fique à vontade sobre o poema e dentro do blog.
Um abraço, rapaz!

Luna Steinherz disse...

Muito forte, muito filosófico... Denso e profundo. Cara, sua capacidade é enorme... Isso que você escreveu é um monumento literário.

Lucia M. Ghaendt-Möezbert disse...

Mordaz, observador, interessantíssimo. Seus textos possuem mais do que boas manobras de discurso - o conteúdo faz jus à forma. As linhas transpiram cultura. (:

Anônimo disse...

Retribuindo a visita, meu caro.
Longa vida também a este espaço.
Abraços!
Elienai

Larissa Marques - LM@rq disse...

Querido,
Aferir adjetivos para sua escrita seria inocente e pouco prudente de minha parte.
Um cenário pouco comum, dentre seus anteriores, mas não menos competente. Sabe escolher a ambientação, assim como desenhar personagens femininos, tão frágeis, que beiram o abismo e que lembram-me imagens que já encarei no espelho.
Quem dera um dia alcançasse sua destreza na prosa, seria eu uma grande escritora!
Beijo, meu querido!
Admiradora sempre!

Bernard Gontier disse...

Bom, verdade seja dita, doravante a necrópole está oficialmente autopsiada. A pedra de toque ou as palavras mores, tanto no grande jazigo como nas pequenas covas repletas de estatuas e do invisível em seus entornos foi assim descrita, válidas tanto para o coletivo como para o singular: ?um homem que talvez não tenha sido tão pleno em seu ofício - eis sua derradeira e definitiva inquisição.? Moeda alguma paga essa formulação, restam o barqueiro e as estatuas. Texto pleno. Abraços!

josé carolina disse...

Ai, rapaz, rapaz. Você não avisa quando troca de quadros, de quadras, de vias. Eu fico mapeando os túmulos: Q23? Qual corredor? Q15?

Você é um monstrinho mesmo (assim dizemos eu e meu pai quanto a pessoas que dominam excessivamente o que fazem).

Minha leitura tornou-se insaciável por seus textos, já sedenta.

Anônimo disse...

Vc alcança um nível literário na sua prosa (tão poética) que é fantástico. Fico exangue ao fim de cada leitura.

Receber um comentário tão generoso seu me deixou radiante, sou muito fã do seu trabalho.

Beijo!

Hannah disse...

Há uma paz aqui, e não é falsa. Este seu texto tem a beleza de um recolher de dedo em riste contra os lábios, fazendo shhh. A filosofia é fluida e o único apelo é a poesia. Nessas palavras há um malabarismo da realidade.

Você, como a morte, soube surpreender usando-se de um tema já gasto e isso pode ser traduzido como maturidade literária.

di°aNa° disse...

_______Otavius! Como fui me perder tanto destas personagens? Crônicas|Contos marcantes, e marcada sempre por um mix de minha falta de conhecimento e DESEJO de mais... Admiro-te, ser livre de objetos coletivos, pontuado por si mesmo, que chega e vai ventando idéias como folhas secas em meu mundo vazio_________

1 óbolo pra Caranto e
1 bEiJoS pra ti

di°aNa° disse...

___zonza, zonza! Efeitos das tuas folhas funestas e envolventes... Leia-se "e saio marcada" I; "1 óbolo para Caronte" II____________ 2 bEiJoS

Andrea de Godoy Neto disse...

Otto, eu li várias vezes e só agora percebi que ainda não havia comentado...

é que teus textos são sempre tão densos e construídos de tantos caminhos entrelaçados que acabo me esquecendo do resto ao percorrê-los. É sempre um prazer imenso ler uma prosa tão bem escrita, dessas que engolem o leitor já nas primeiras palavras :)

isso é talento, moço!
beijos

Carla Diacov disse...

e eu hei de voltar...óbvio...por óbvios motivos e por vários, ovários, outros...


paxonei muito pelas tuas letradas de cemitério!

Paulo Izael disse...

"Aqui, o pranto deve permanecer para que jamais as almas se privem do banho que lava delas quaisquer resquícios de vida"...?É o tipo de texto que chamo de literatura completa. Altamente bem construido. Cada palavra eleva o talento, culminando numa moldura literária que externa a emoçao do conhecimento

Jane Krist disse...

Posso sentir os acordes da despedida - a morte - tão ingrata em densos desencontros, cumpri o fim , a ruptura dos pulsos que não podem mais dosar emoções e assim fecha os olhos - a morte é um grande filósofo que parte sem cumprir seu ideal. Um abraço, Otto.

Anônimo disse...

A abertura do conto, no primeiro parágrafo, é impecável, contundente. Todo resto é um tecido de seda pua, ora mais artuculado em agnosticismos e questões em aberto, ora simples, muito bem alinhavado em imagens textuais que primam pela poesia sem pretensão fiósófica ( sábio, eu diria)só ali, nas tramas da efemeridade, by the way.... essa passagem provocou-me um frêmito, uma comoção porque assim é : A vida.
" Olhar para trás, jamais. Sentia que, se virasse o rosto, o velho que lamuriava cansado se tornaria todo um mar, todo um mundo, todo uma canção, que lhe encheria de lágrimas e morte: sabia ser a saudade o sal que nos sedimenta em estátuas". My God ! Otávio, belíssimo ! A imagem arquetípica bíblica, a vivênvia de quem sabe que para ser fiel a alguma essência em nós temos sempre que magoar alguém. A consciência da fugacidade e de que, no fundo, somos sempre sós.

beijo e um feliz Ano Novo,
Valéria Sessa

Ana Másala disse...

Feito anjo, jaz aqui um porta-voz do nada a perfurar nossos íntimos mistérios e o faz com a maestria dos grandes filósofos e escritores. Completamente fascinada por Tânatos, segui por teu texto como seguiria uma luz de vela na mais densa escuridão.Sinto-me assim, na ante-sala de um abismo, sôfrega,devorando sombras(e adorando).Voltarei, como sempre...Ana

Jorge Luiz disse...

Sombrio... será? A realidade é sombria. Vivemos em suntuosas necrópoles, abstendo-nos diariamente do possível e palpável, satisfazendo-nos com nossas limitações, crenças e devaneios, crentes que o Admirável Mundo Novo chegou-nos pelo 0800, sem ônus para nosso metabolismo neste planeta azulado que se degrada, rapidamente - como o tecido de nossos corpos, lembrando-nos sempre que a Eternidade possui prazo de validade. Sombrio... Viver é adiar a realidade cada vinte e quatro horas num reality show onde o prêmio é acordar pela manhã; crer, piamente, que cada verso bem trabalhado ou acrílico emoldurado na parede, ou mesmo sobreviver com classe e jactância signifique a divindade perante meros mortais - ignorando solenemente que nossa campa já está reservada pelo apego às nossas mais cegas crenças, a de que temos a Verdade como apanágio - mas que não nos livrará do óbvio ululante: vivemos, todos nós, na Necrópole das Ilusões. Abraço, Mestre!

Neusi Sardá disse...

Você é GRANDE! Muito profundos os seus escritos... bjs

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